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VIRADOURO

O curioso nome da Escola tem origem na Rua Dr. Mário Viana, próximo à Garganta, nome popular dado à subida do Morro da União. Era justamente ali que o bonde fazia a curva para “virar” e retornar ao Centro de Niterói. A localidade acabou ganhando o nome de Viradouro, transformada em bairro pela Prefeitura, e a Escola também. 

SAMBA-ENREDO

“Arroboboi, Dangbé”

Autores: Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno

Intérprete: Wander Pires

Eis o poder que rasteja na Terra
Luz pra vencer essa guerra, a força do Vodun
Rastro que abençoa Agoyê
Reza pra renascer, toque de Adahum
Lealdade em brasa rubra,
fogo em forma de mulher
Um levante à liberdade, divindade em Daomé
Já sangrou um oceano pro seu rito incorporar
Num Brasil mais africano, outra areia,
mesmo mar


Ergue a casa de Bogum, atabaque na Bahia
Ya é Gu rainha, herdeira do candomblé
Centenário fundamento da Costa da Mina
Semente de uma legião de fé


 

Vive em mim
A irmandade que venceu a dor
A força que herdei de Hundé e da luta minó
Vai serpenteando feito rio ao mar
Arco-íris que no céu vai clarear
Ayi! Que seu veneno seja meu poder
Bessen que corta o amanhecer
Sagrado Gume-Kujo
Vodunsis o respeitam, clamam Kolofé
Os tambores revelam seu afé


Ê Alafiou, ê Alafiá, é o ninho da serpente
Jamais tente afrontar
Ê Alafiou, ê Alafiá, é o ninho da serpente

Preparado pra lutar!


Arroboboi meu pai, arroboboi Dangbê
Destila seu axé na alma e no couro
Derrama nesse chão a sua proteção
Pra vitória da Viradouro

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ENREDO

"Arroboboi, Dangbé”
Carnavalesco: Tarcísio Zanon
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"Resistência”
Carnavalesco: Alex de Souza

SINOPSE

...Alafiou!
Caminhos abertos para a Viradouro!
A predição do oráculo, senhor de todos os conselhos, prenuncia um tempo de grandes batalhas. Tempo de luta.
E tempo de vitória!
A manutenção das crenças dos povos da região da Costa da Mina vive na perseverança das sacerdotisas voduns, mulheres escolhidas e iniciadas em ritos de louvor à serpente sagrada, cujas trajetórias místicas se entrelaçam em combates épicos, camuflagens táticas e resiliência vital.
Arroboboi: “Salve o espírito infinito da serpente”!

 

DANGBÉ  O CULTO À SERPENTE

Um facho sinuoso desliza sobre o chão, chacoalha as folhas, estremece a terra e borbulha as águas. É Dangbé, o vodum da proteção, do equilíbrio e do movimento. Nele, nada principia nem finda, tudo avança, tudo retorna. É o constante rodopio do universo, o círculo fechado, sentido materializado pela imagem da cobra engolindo a própria cauda.

Foi assim que resplandeceu Dangbé entre os povos de Uidá, na Costa da Mina, após a épica batalha contra o reino vizinho de Aladá.

A serpente atravessou os campos onde estava o exército de Aladá, indo se unir ao lado adversário. O grande Sacrificador levantou o animal para que fosse visto pela tropa inimiga, prostrada diante da serpente. Após intenso ataque, foi consagrada a vitória de Uidá. A nação vencedora passou a levar oferendas e a realizar grandiosas procissões em direção ao templo erguido para reverenciar a divindade.

Mais tarde, a adoração a Dangbé se uniria aos demais cultos aos voduns ofídicos presentes no reino do Daomé, que expandiu seus domínios após intensas lutas contra os reinos próximos. Batalhas em que teve destaque um poderoso exército feminino, preparado espiritualmente pelas sacerdotisas voduns.

O PACTO MÍSTICO DAS GUERREIRAS MINO

Como o rio que serpenteia inundando a mata, a tropa irrompe o horizonte. Rastro encarnado de sangue sobre a terra, na insanidade da guerra e na dignidade da luta. Língua de brasa e cipó de fogo que fazem crepitar a palha seca, ataque com destemor e fúria a revelar o poderio de mulheres-soldados consagradas na fé e nas batalhas, protegidas pelo sobrenatural.

As guerreiras Mino, as mulheres mais temidas do mundo, eram esposas e guardiãs do palácio do Rei do Daomé, além de audazes caçadoras de elefantes, cujos marfins eram utilizados como matéria-prima em cerimônias oficiais e religiosas.

Ao serem recrutadas, participavam de um ritual de iniciação conduzido pelas sacerdotisas voduns, senhoras do trono da magia e dos encantes. Nessa sagrada assembleia, realizavam um pacto místico para que nunca traíssem umas às outras. O espírito de coletividade forjava a arma mais poderosa de que dispunham: o valor inegociável da lealdade.

Com inteligência e fé, formavam mais que um exército: organizavam uma poderosa irmandade, aliança consagrada pela força encantatória dos voduns. Assim, tornavam-se belicamente implacáveis e espiritualmente invulneráveis. Atributos espalhados aos ventos por lideranças femininas do Daomé em outras lutas, desta vez pela manutenção do sagrado em novos territórios onde as herdeiras da serpente fincassem pés e pejis.

Os valores místicos das guerreiras atravessaram o Atlântico no baú de memórias e crenças de uma sacerdotisa do Daomé, que chegou ao Brasil em trono de Gu Rainha. Pouco se sabia sobre o seu passado. Mas muito se conheceria sobre o seu futuro.

LUDOVINA PESSOA E A HERANÇA VODUM NA BAHIA

Com a missão de perpetuar os cultos voduns no Brasil, Ludovina Pessoa ondeou pelo imenso oceano com a companhia mística dos seus antepassados. Tornou-se o pilar de terreiros consagrados aos voduns, entre eles o Seja Hundé, na cidade de Cachoeira de São Félix, no Recôncavo Baiano, e o terreiro de Bogum, erguido no coração de Salvador.

No Bogum, casa centenária de liderança feminina, foram plantadas sementes de liberdade, tornando-se importante local de apoio à Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador na primeira metade do Século XIX.

A palavra “bogum” historicamente remetia a um aldeamento próximo à Costa da Mina. Já segundo a tradição oral, o termo também se referia ao baú onde se guardavam o ouro e os donativos destinados a financiar a insurreição popular que reuniu o povo negro contra a escravidão.

Se por um lado a revolta foi sufocada, por outro, os laços entre as sacerdotisas e a fé dos povos trazidos ao Brasil se fortaleceram. Assim como as ancestrais guerreiras do Daomé, foi preciso lançar mão da lealdade para que suas práticas de magia atravessassem tempos e fronteiras nesse novo território marcado pela perseguição às suas crenças. Irmandades que contribuíram para a inserção social e religiosa dessas sacerdotisas, líderes de uma legião de irmãs de fé.

ENTRE A CRUZ E A SERPENTE: TEMPLOS SINCRÉTICOS

Agora não só os voduns protegiam as mulheres. Com as irmandades, as mulheres também protegiam os voduns. Assim, tornaram-se senhoras da cura, da fortuna, da fertilidade, das adivinhações, dos conselhos e do destino. Orientações espirituais feitas inclusive a brancos e brancas que repudiavam publicamente o culto aos espíritos, mas que rogavam auxílio à magia nos fundos dos templos de adoração católicos.

Em Cachoeira, no terreiro do Seja Hundé, Ludovina foi o elo entre muitas das sacerdotisas reunidas em irmandades, estabelecendo laços de pertencimento entre os clãs. Unidas, teciam uma rede matriarcal associativa, erguida com devoção e lealdade, pacto firmado sob a cruz e a serpente para que nunca abandonassem umas às outras.

Entre batuques e rezas, tambores e ladainhas, reuniam-se em louvações e procissões aos santos católicos, sem abrir mão de preceitos ancestrais, dentre eles cozinhar e distribuir alimentos, perpetuando a missão de prover sua gente de fartura e proteção.

Professavam fés que não se excluíam ao mesclar ritos ligados às divindades da costa africana e à barroca expressão do catolicismo. Constituíam, assim, um tipo de devoção feminina e solidária que transbordava também no gestual, na língua, no cabelo, nos cheiros, nos talismãs, nos balangandãs, nos paramentos, nos alimentos, no jeito de dançar e de cantar, enfim, de ser e de estar no mundo. Poder que se eterniza na constante luta pela crença vodum, suas encantações, ritos e mistérios.

TERRA, TERREIRO CÓSMICO

Sem água e sem mata, o Jeje não sobrevive”


(Doné Runhó, sacerdotisa que liderou o Bogum até 1975, imortalizada em busto esculpido no bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador).

E cá estamos nós, Viradouro e Jeje, cruzando energias e tambores. A formação do Candomblé na Bahia passa pelo legado da crença vodum, manifestada no aguidavi, que comanda o toque de guerra do adarrum. Está nos ritos e nas divindades que se religaram a outras matrizes religiosas africanas, fluindo como rio serpenteando pela mata, rumo ao mar. E, assim como as ofídicas, sobrevivem e se expandem em peles que se renovam.

Energia que renasce no culto aos voduns, hoje espalhado pelo Brasil em diversas casas consagradas às entidades. E se você se perguntar que força poderosa é essa, sinta que ela mora na dor e no prazer da criação, na natureza das coisas, na explosão sonora do trovão, na respiração das folhas e no correr das águas. Está na magia lunar. No calor do Sol. Vive no cair da chuva que rega o planeta, este terreiro mágico a flutuar no cosmos. Está no poder infinito da Serpente, dona de tudo o que não finda nem principia, no eterno rodopio do universo.

Arroboboi! Saudação e evocação da energia que transita entre o céu e a Terra! Entidade visível no encantamento do arco-íris, a ponte sagrada que liga os humanos às divindades voduns. E que nos conecta aos ensinamentos das eternas herdeiras de Dangbé: SABEDORIA, LUTA, UNIÃO e VITÓRIA!

Alafiou...

Carnavalesco e autor do enredo: Tarcísio Zanon
Texto: João Gustavo Melo

FICHA TÉCNICA

Fundação: 24/06/1946
Cores: Vermelha e Branca
Presidentes de Honra: José Carlos Monassa (in memoriam) e Marcelo Calil Petrus

Presidente: Hélio Nunes

Carnavalesco: Tarcísio Zanon

Mestre de Bateria: Ciça

Rainha de Bateria: Erika Januza
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Julinho e Rute
Comissão de Frente: Rodrigo Negri e Priscilla Mota

Quadra: Av. do Contorno, 16, Barreto, Niteroi CEP: 24110-205
Barracão: Cidade do Samba (Barracão nº 01) - Rua Rivadávia Correa, nº 60 - Gamboa - CEP: 20.220-290

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