top of page
  • Ícone do Twitter Preto
  • Ícone do Youtube Preto
  • Ícone do Instagram Preto
  • Flickr Rio Carnaval

SALGUEIRO

Resultado da união entre as Escolas de Samba Depois Eu Digo, Unidos do Salgueiro e Azul e Branco, a “Academia” nasceu no Morro do Salgueiro, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Sob o comando de Nelson Andrade, deu uma guinada na história dos desfiles a partir dos anos 60, elegendo temas que exaltavam a contribuição do negro para a formação da identidade brasileira.  

SAMBA-ENREDO

A Escola está em fase de definição de
seu Samba-Enredo

"Hutukara"

Autores: Pedrinho da Flor, Marcelo Motta, Arlindinho Cruz, Renato Galante, Dudu Nobre, Leonardo Gallo, Ramon Via13 e Ralfe Ribeiro

Intérprete: Émerson Dias

É HUTUKARA! O chão de Omama
O breu e a chama, Deus da Criação
Xamã no transe de Yakoana
Evoca Xapiri, a missão...
HUTUKARA, ê! Sonho e insônia
Grita a Amazônia, antes que desabe
Caço de tacape, danço o ritual
Tenho o sangue que semeia a nação original

Eu aprendi português, a língua do opressor
Pra te provar que meu penar também é sua dor


Falar de amor enquanto a mata chora,
É luta sem Flecha, da boca pra fora!


Tirania na bateia, militando por quinhão,
E teu povo na plateia, vendo a própria extinção


“Yoasi” que se julga: “família de bem”,
Ouça agora a verdade que não lhe convém:

Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril,
Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome,
Quando o medo me partiu
Você quer me ouvir cantar "Yanomami"
Pra postar no seu perfil entre aspas e negrito,
O meu choro, o meu grito, nem a pau Brasil!

Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom
Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom
Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso,
não queremos sua “ordem”, nem o seu “progresso”!
Napê, nossa luta é sobreviver!
Napê, não vamos nos render!


Ya Temi Xoa! Aê, êa!
Ya Temi Xoa! Aê, êa!
Meu Salgueiro é a flecha
Pelo povo da floresta
Pois a chance que nos resta
É um Brasil cocar!

211206_Carnaval_site_Escolas-VETORES-12___V1.png

ENREDO

‘Hutukara’

Carnavalesco: Edson Pereira

logo-oficial-salgueiro-2024.jpg

SINOPSE

Há mais de mil anos, os Yanomami vivem na maior Terra Indígena (TI) do país, em um território ao norte do Brasil e sul da Venezuela, nos estados do Amazonas e Roraima, nas bacias do Rio Negro e do Rio Branco. Ou seja, quinhentos anos antes dessas duas nações existirem, eles já estavam lá. Viver na floresta é um ofício que requer uma sabedoria ancestral, não fabricada em laboratório, nem encontrada nas páginas dos livros do “povo da mercadoria”. Viver na floresta como Yanomami é ser parte dela. É conviver com seres humanos e não humanos, animais, plantas, vento, chuva e milhares de espíritos.

Mas ouvem-se roncos. Estrondos. Militares estão raspando a pele da terra-mãe para a cons- trução de estradas. A floresta é cortada em pedaços, feito retalho. Os garimpeiros, “come- dores de terra”, chegaram. Para os Yanomami, as coisas que se extraem das profundezas da terra, como ouro e petróleo, são artifícios maléficos, perigosos, impregnados de tosse e febre. Omama escondeu o minério embaixo da terra para que o criador da morte, não fizesse mal uso dele. Apesar da prudência de Omama, Yoasi fez com que os não indí- genas soubessem desses metais, despertando a cobiça dos invasores.

“Omama recriou a floresta, pois a que havia antes era frágil. Virava outra sem parar, até que o céu desabou sobre ela. Por isso, Omama criou uma nova floresta, mais sólida, cujo nome é Hutukara”

Davi Kopenawa - A queda do céu

Entre em transe. Sonhe

Sob o luar de um anoitecer, todos se deitam em redes e iluminam o breu, numa aldeia sem luz elétrica, com lanterninhas e pequenas fogueiras que ajudam a amenizar o ar gélido da madrugada amazônica. A nossa noite, porém, é o seu dia. Sob o efeito da yãkoana, pó alucinógeno feito das raspas de árvores que dá acesso aos espíritos, os xamãs da aldeia convocam os xapiris. Eles vêm com seus corpos translúcidos, sempre belamente adornados e brilhantes. Só quem os conhece pode vê-los porque são muito pequenos e brilham como a luz. Há muitos, muitos, milhares deles. Xapiri é luz que dança e canta.

Ãë, ãë, ãë, e, e, e, e, e, ãë, ãë, ãë, ãë!

Os cantos dos xapiris são tão numerosos que suas palavras são inesgotáveis. Eles aprendem tais melodias a partir das árvores de cantos. São árvores imensas, com troncos cobertos de lábios que se movem sem parar, uns em cima dos outros. Dessas bocas saem cantos belíssi- mos, tão abundantes quanto as estrelas do peito do céu. Todos os cantos dos espíritos provêm dessas árvores muito antigas. Esses espíritos ancestrais foram criados por Omama para que os Yanomami pudessem se vingar das doenças e se proteger da morte. Os xapiris são os protetores dos humanos e de seus filhos, independentemente de quantos sejam, e da floresta. Eles garantem a todos nós, indígenas e não indígenas, a certeza de que o sol nascerá no dia de amanhã e que o céu não desabará sobre a nossa cabeça.

Vislumbramos o sol do alvorecer. Céu azul, corpos pintados de vermelho. Coberta de palha e folhas, com uma praça de terra batida ao ar livre, o povo da aldeia parte para a caça e a coleta da pupunha, ingrediente principal do seu “mingau”. Eles usam arcos e flechas. Elas pegam seus cestos, seus facões, seus bebês e seguem para a roça. Aventuram-se mata adentro, com corpos imitando animais, procurando alimentos, seguindo cada rastro: abe- lhas comem no jatobá-roxo, jacarés passeiam pelas águas, a sumaúma impõe majestade e os perfumes exalam do fundo da selva. Flecham os animais, pescam os peixes. Mais tarde, chegarão com tatus, mutuns, jabutis, antas... Convidam uns aos outros, de casas diferentes, para dançar durante suas grandes festas reahu.

Mas ouvem-se roncos. Estrondos. Militares estão raspando a pele da terra-mãe para a cons- trução de estradas. A floresta é cortada em pedaços, feito retalho. Os garimpeiros, “come- dores de terra”, chegaram. Para os Yanomami, as coisas que se extraem das profundezas da terra, como ouro e petróleo, são artifícios maléficos, perigosos, impregnados de tosse e febre. Omama escondeu o minério embaixo da terra para que o criador da morte, não fizesse mal uso dele. Apesar da prudência de Omama, Yoasi fez com que os não indí- genas soubessem desses metais, despertando a cobiça dos invasores.

O que fazem os brancos com todo esse ouro? Por acaso, eles o comem?

Enquanto reviram a terra para tirar de lá as lascas do céu, da lua, do sol e das estrelas que caíram no primeiro tempo, a fumaça xawara da doença se espalha: a água fica barrenta; rios são destruídos; animais desaparecem... A terra é demarcada, mas nem por isso protegida. Nada será forte o suficiente para restituir o valor da floresta doente. Nenhum dinheiro poderá devolver aos espíritos o valor de seus pais mortos.

O ronco dos motores para ao anoitecer. É aí que se ouve um ruído pior: o das crianças chorando de fome!

Em meio à essa tragédia, precisamos admirar a beleza e a força deles. Para os inimigos dos povos indígenas, o extermínio dos Yanomami passa pela destruição dessa beleza, passa pelo esquecimento de quem são. Porque é reconhecendo a beleza, a cultura, a memória, a sua própria língua, que os Yanomami afirmam a sua humanidade no mundo. Apaixonemo- -nos por esse povo, por sua maneira particular de contar histórias. O respeito só pode nascer da admiração, não da pena. Afinal, o genocídio visto hoje mostra mais quem são os napë (não indígenas) do que quem são os Yanomami.

Assim como os sonhos Yanomami que surgem quando as flores da árvore dos sonhos desabrocham, sonhemos com um Brasil indígena. Os Yanomami não apenas pensam sobre seus sonhos, eles sonham aquilo que pensam, ampliando e moldando sua forma de conhecer e imaginar o mundo. De Norte a Sul, do Nordeste ao Sudeste, por toda a terra-floresta até os limites da Hutukara, os sonhos dos diversos povos originários continuarão desabrochando em nós e seguiremos sendo resistência. Antes do verde e amarelo, existia o Brasil do jeni- papo e do vermelho. Antes da Coroa, existia (e ainda existe) o Brasil do cocar. Não conheceremos o Brasil antes de vislumbrar e respeitar a história indígena. Precisamos sonhar verdadeiramente a nossa terra.

E, aos inimigos dos povos indígenas, responderemos (em Yanomami):
YA NOMAIMI! YA TEMI XOA!
(Eu não morro! Ainda estou vivo!).

Colaboração: Davi Kopenawa e Marcos Wesley (Instituto SocioAmbiental)
Desenvolvimento: Edson Pereira e Igor Ricardo
Texto: Igor Ricardo

Bibliografia:
 

• KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã Yanomami. 1a edição.\ São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
• 
BALLESTER, Anne. A árvore dos cantos. 2a edição. São Paulo: Editora Hedra, 2022.
• 
LIMULJA, Hanna. O desejo dos outros: uma etnografia dos sonhos Yanomami.
São Paulo: Ubu Editora, 2022.
• 
NOGUEIRA, Thyago (org.), Claudia Andujar: A Luta Yanomami (Instituto Moreira Salles, 2018).
• 
PEDROSA, Adriano; RIBEIRO, David. Joseca Yanomami: nossa terra-floresta. São Paulo: MASP, 2022. • GIMOVSKI, Fábio. Ancestrais da terra. Curitiba, PR: Editora Urukum, 2021.

FICHA TÉCNICA

Fundação: 05/03/1953
Cores: Vermelho e Branco
Presidente de Honra (In Memoriam): Djalma Sabiá

Presidente: André Vaz da Silva

Carnavalesco: Edson Pereira

Mestres de Bateria: Guilherme e Gustavo

Rainha de Bateria: Viviane Araújo
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Sidcley Santos e Marcella Alves
Comissão de Frente: Patrick Carvalho

Quadra: Rua Silva Teles, 104 - Andaraí - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20541-110
Barracão: Cidade do Samba (Barracão nº 08) - Rua Rivadávia Correa, nº 60 - Gamboa - CEP: 20.220-290

bottom of page